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..:: A Ratoeira no Teatro Leblon ::..

Quem matou?
É a pergunta de 'A ratoeira', de Agatha Christie, que estréia amanhã Teatro Leblon

(Alessandra Duarte)

"A próxima vítima" tinha um nome que já dizia a que vinha. "Celebridade" também teve seu assassinato, e Odete Roitman virou história porque foi morta. Se na televisão o mistério policial já provou que dá certo, no teatro brasileiro a figura do detetive é bissexta - e uma de suas aparições é em "A ratoeira", que estréia amanhã no Teatro Leblon. Escrita por Agatha Christie, é a peça em cartaz há mais tempo no mundo: estreou em Londres em 1952 e está lá até hoje.

A direção da remontagem, que já foi apresentada aqui nos anos 50 e 70, é de João Fonseca, mas que ninguém vá ver "A ratoeira" atrás do trabalho dos F... Privilegiados só porque o diretor é da companhia e está atualmente à frente dela.

- Com os F... Privilegiados eu trabalho com nada: só umas cadeiras e os atores; no "Escravas do amor" usei uma corda para representar um rio. Com "A ratoeira", a coisa é realista, com uma trama muito bem amarrada, onde os detalhes são muito importantes, e estou tentando ser fiel a isso. Não quero inventar nada. Essa peça é brincadeira de detetive - diz o diretor.

- O artifício do "quem matou?" é muito usado nas novelas, porque levanta a audiência de qualquer coisa. Não consigo entender por que caiu em desuso no nosso teatro. Faz tempo que não assisto a peças assim, policiais mesmo, por aqui.

"A ratoeira" ("The mousetrap") não é a adaptação de um dos romances policiais de Agatha Christie, mas de uma radionovela da autora.

- Ela escreveu essa radionovela em alguma data comemorativa da Inglaterra. Depois, como já tinha uma vez adaptado um livro dela para o teatro e gostou do resultado, resolveu adaptar a radionovela também, que antes se chamava algo como "Três ratos cegos" - diz Fonseca, acrescentando que já foi fã de Agatha Christie, mas não "daqueles devoradores".

- Li "Assassinato no Expresso do Oriente" e "Morte no Nilo", mas muito por conta das adaptações para o cinema que foram feitas. Tomei conhecimento da obra da Agatha, pela primeira vez, por meio de um filme adaptado de "O caso dos dez negrinhos".

Não sei se, por um surto politicamente correto, mudaram para "E não restou nenhum".

Cláusula impede filme

João Fonseca ficou conhecendo "A ratoeira" por meio da Rede Globo.

- Na época de "Malu Mulher", a Globo lançou outras séries, e uma delas, "Aplauso", era um teleteatro.

Toda segunda-feira tinha uma peça adaptada para a TV. Numa dessas, eu vi "A ratoeira". Se não me engano, era com o Edwin Luisi, o Reginaldo Faria e a Pepita Rodriguez - conta. - Acho que a Globo conseguiu isso porque era para a TV, porque a Agatha Christie deixou uma cláusula em contrato dizendo que adoraria que a peça fosse para o cinema, mas só seis meses depois que ela saísse de cartaz.

Como a peça até hoje não saiu...

Fonseca nunca viu nenhuma montagem do espetáculo, mas trabalhou, na peça "Colombo", com o ator Rubens Corrêa, que participou da montagem feita pelo grupo Teatro do Rio, com Ivan de Albuquerque, em 1959 (nos anos 70, houve outra montagem, no Teatro Princesa Isabel, com Leonardo Vilzer lar, Wanda Lacerda, Orlando Miranda e Toni Ferreira):

- O Rubens sempre contava histórias deliciosas dos ensaios desse espetáculo. De tanto ouvi-lo, fiquei com vontade de fazer "A ratoeira".

A oportunidade veio agora, com o convite feito por atores-produtores da empresa Ordinária Produções, com quem Fonseca já tinha trabalhado em espetáculos como "Minha mãe é uma peça" e "Esses anos estúpidos e perigosos".

- Eles estavam procurando um espetáculo e falei deste, porque é difícil ter uma peça com tantos bons papéis jovens - diz João Fonseca, que está fazendo sua primeira peça realista. - Ela é para divertir, as pessoas vão ver querendo ser enganadas. Ah, sempre tive vontade de ser meio Martin Scorsese na minha vida! Sou louco para fazer um musical. Mudar um pouco é bom até para fazer você não se repetir.

"A ratoeira" se passa numa noite de nevasca, na pensão Monkswell, a 30 milhas de Londres, no pósguerra.

A pensão é administrada pela jovem Mollie Ralston (Carolina Portes), que herdou o casarão de uma tia, e seu marido, Giles (Moacyr Siqueira). A trama começa no dia da inauguração do local, quando os primeiros hóspedes chegam: Christopher Wren (Pablo Sanábio, o nome é o mesmo do arquiteto projetista da Catedral de St. Paul), um jovem arquiteto "com modos um pouco estranhos e extravagantes de se vestir e agir", segundo João Fonseca; e a Srta. Casewell (Keli Freitas), "uma senhorita um pouco masculinizada, da qual sabemos apenas que vivia no exterior".

Como, segundo o diretor, as histórias de Agatha Christie "precisam do charme de primeiros atores", Fonseca convidou, para participações especiais como os outros hóspedes da trama, Débora Duarte, Dudu Sandroni e Tonico Pereira. Débora vive a Sra. Boyle, "com pose de rica", que desde o início faz questão de mostrar que não gosta do ambiente da pensão.

Sandroni é o Major Metcalf, um militar da reserva "simpático e normal".

E Tonico vive o Sr. Paravicini, "o hóspede inesperado", que diz que seu carro encalhou na neve e por isso ele, que afirma ser um investidor da Bolsa, foi parar ali.

- Meu personagem é um estrangeiro na Inglaterra. Um italiano histriônico, para fazê-lo, acrescentei minha verve de ator popular cômico - destaca Tonico Pereira, acrescentando que só faz teatro ao ser convidado.

- O espetáculo anterior que fiz, "O doente imaginário", também foi convite. Não tenho competência nem oportunidade para me produzir, como esses jovens da peça fizeram.

Um dos personagens da história morre e, para investigar a morte, aparece o Sargento Detetive Trotter (Gabriel Gracindo, neto de Paulo Gracindo), que já estava investigando um crime anterior ocorrido em Londres e vai apurar sua ligação com o assassinato da pensão.

Foi o papel de Leonardo Villar na montagem dos anos 70.

Elenco grande e cenário trabalhado

- Essa peça ficou uns sete, oito meses em cartaz. Acho que a Agatha Christie se repete muito, mas é muito boa nas suas tramas. E eu também gostava de fazer esses textos mais realistas, com direções realistas também - diz Leonardo Villar. - Hoje, não se produzem mais peças com esse perfil, mas não por falta de público.

O público continua gostando, os atores e diretores é que deixaram de fazer, acho que por falta de grana.

Um espetáculo assim tem que ter elenco grande e cenário trabalhado.

- Tenho cartazes da peça até hoje numa casa em Teresópolis - completa Orlando Miranda, administrador do Teatro Princesa Isabel, que participou da montagem no local, e que classifica o espetáculo em Londres como algo que, pelo tempo em cartaz, já se tornou "um museu em andamento". — Depois de "A ratoeira", teve aqui "Inspetor, venha correndo".

Desde então, em 30 anos, não me lembro de outro policial nos palcos do Rio. A coisa mais difícil numa peça policial é que os atores precisam estar absolutamente em cena, para não deixarem, sem querer, transparecer inverdades, algum traço que não faça parte da trama. Mais que em comédias ou tragédias, neste tipo de peça a platéia está atenta a todos os movimentos e a tudo.

Fonte: G1


Enviado à mailing por Naomi em 08-11-2006