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..:: Agatha na Revista Entrelivros - ed. out/05 ::..

Pessoal, na revista EntreLivros n. 6 a matéria de capa é "romance policial":
http://revistaentrelivros.uol.com.br/edicoes/6/sumario.asp

DAMAS DO CRIME - Num mundo de homens, Agatha Christie e Patrícia Highsmith dão as cartas
ENSAIO - Retrato da realidade e reflexões psicológicas integram as tramas
ENTRETENIMENTO - Jô, Tony Bellotto e Nelson Motta se divertem e divertem os leitores
ESTANTE - Conheça dez livros que não podem faltar na sua biblioteca de policiais
GALERIA - Um retrato falado dos 12 detetives mais durões, excêntricos e sedutores
HISTÓRIA - Pistas da literatura policial remontam ao século XIX, com Edgar Alan Poe
PARA JOVENS - Ao formar leitores, o policial tem uma insuspeita vocação pedagógica

Alguém já leu? Vale a pena?

Enviado à mailing por Naomi em 08-10-2005


Oi Luciana, oi pessoal (e Lucianas),

hoje estou com mais tempo para falar sobre a matéria de romance policial da revista Entrelivros. Foi a última vez que caí no engodo de comprá-la, de modo que algum outro de vocês deverá tomar meu lugar se no futuro surgir a necessidade de meter o pau em alguma matéria dessa publicação.

Eu era um grande admirador da Duetto Editorial, que faz um trabalho admirável na edição da "Scientific American Brasil", a melhor coisa que se pode encontrar numa banca de revistas, se não levarmos em conta reedições de clássicos dos quadrinhos. Algum tempo depois de iniciar a publicação da SA (para quem não sabe, é uma revista americana de divulgação científica, traduzida com extremo cuidado e que na edição brasileira se enriquece com artigos de pesquisadores nacionais) a Duetto começou a editar a "História Viva", essa de matriz francesa, que, apesar de tratar da minha área preferida, tem conteúdo muito inferior. Veio então a "Entrelivros", sobre literatura, que publica resenhas do New York Times mas cujo grosso do material é de produção da própria editora. O melhor que posso dizer dela é que poderia ser pior.

Nas duas revistas que citei primeiro, meu paradigma para julgar a Entrelivros, temos estudiosos das áreas-tema escrevendo para o público ignorante. Nessa as perdas chegam pelos dois lados, porque temos jornalistas escrevendo para o público não tão ignorante assim.

Quando um texto fala sobre a diferença entre o desvio para o vermelho ocasionado pela expansão do universo daquele gerado pelo efeito doppler não se exige muito do articulista para agradar o leitor, pois o próprio tema garante o interesse dele, mas quando um texto fala sobre a obra dos russos do século XIX é fundamental que o próprio texto seja bem escrito. Presume-se que qualquer um que se interesse em comprar esse número da revista fá-lo por ter já algum conhecimento pessoal de Tolstói & Cia, mas acredita poder encontrar nela matéria para enriquecer sua compreensão e desfrute desses autores. Porém o que descobre é que a "Entrelivros" trata maravilhas da literatura com a mesma frieza que o "Globo Rural" trata as vacas: são apenas o objeto de seu texto, frente ao qual em momento algum se põe a questão de entendê-las. Mesmo em se tratando de jornalistas, eu jamais acreditei que se pudesse escrever sobre literatura com tão pouca motivação.

Se a "Entrelivros" é insatisfatória, a sexta edição é um fiasco. A chamada de capa diz: "Confesse: você adora literatura policial". Efetivamente, a linha que o artigo segue é "todo mundo adora ler policial mas ninguém aceita que é literatura". Mas é um erro acreditar que a questão seja *discutida* no artigo. Antes, vemos que esse preconceito existe desde o começo, que é preconceituoso julgar a obra pelo rótulo, que grandes autores já escreveram (ou se agradavam de) policial, que há policiais bons e policiais ruins, que Agatha Christie vende milhões e muitas outras generalidades nada originais.

Absolutamente nada de informação bruta, absolutamente nada de análise criativa, muito menos uma paixão pelo gênero compartilhada pelo articulista, como a chamada em tom de cumplicidade faz sugerir. A única discussão que a matéria excita é se o articulista já leu dois romances policiais na vida, apenas um ou nadica de nada.

Mas se a matéria em si restringe-se a ser anódina, um dos quadros que a acompanha é em cheio ignóbil (para ser completo, havia também uma parte de opinião na seção dedicada à literatura policial, tratando do tema do valor literário dos romances policiais. Melhor que o resto, mas também fraco). São os "retratos falados" de doze famosos detetives da ficção, no qual, abaixo do desenho de um rosto em traços limpos do detetive em questão (o único exemplo de criatividade em toda a matéria) se oferece uma curta descrição dessas personagens no melhor estilo "Capricho". Quando voltar à casa transcreverei as do Sherlock e do Poirot. Mas foi justamente aí, ao perceber que a idéia de público-alvo dos editores era a de pessoas que aceitariam, ou pior, precisariam daquelas amalucadas linhas para construir sua imagem de personagens que já se incorporaram à cultura moderna, que eu me conscientizei de que a "Entrelivros" não era para mim. Não sei bem para quem é, mas estou seguro de que não encontrarei lá o que me interessa encontrar.

Mais fácil encontrar aqui, na Acbr! Valeu, Luky!


Enviado à mailing por Flávio em 28-10-2005