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Rio, 1 de Outubro de 2002

Lady Agatha lipoaspirada e siliconada

José Figueiredo

As pequeninas células cinzentas dos editores da Nova Fronteira trabalharam e chegaram à conclusão inevitável: depois de cerca de 20 anos com a mesma "cara", Agatha Christie precisava de uma nova plástica para manter o seu cetro de Rainha do Crime. E é com capa e formatação novas e algumas traduções revistas que Hercule Poirot, Miss Marple, Tommy & Tuppence, Parker Pyne e Ariadne Oliver se apresentam às novas gerações.

Tendo no seu catálogo 78 dos 87 livros escritos por Agatha, a Nova Fronteira acabou de fazer chegar às livrarias a primeira fornada de obras recauchutadas - "Assassinato no Expresso Oriente", "O mistério dos sete relógios", "Treze à mesa", "A aventura do pudim de Natal", "A casa do penhasco", "Morte na praia", "A maldição do espelho", "Morte na Mesopotâmia", "Morte nas nuvens" e "Os elefantes não esquecem". A editora quer lançar mais dez títulos no início de 2003 e, neste ritmo, reeditar toda a coleção até 2004.

Os números editoriais de Agatha são surpreendentes. Em termos planetários, o conjunto de sua obra só perde em vendagem para a Bíblia. Desde 1969, quando adquiriu os direitos para o Brasil da grande maioria dos títulos de Agatha, a Nova Fronteira já contabiliza 8,5 milhões de exemplares vendidos. Só o campeão de vendas, "O assassinato no Expresso Oriente", soma 450 mil volumes comercializados. E para manter o fascínio que a autora inglesa (1890-1976) exerce sobre seus súditos desde 1920, quando foi lançado o seu primeiro romance, segundo o diretor editorial Carlos Barbosa, só é necessário não descurar de atualizar a "roupagem" de tempos em tempos:

- É fantástico como Agatha atravessa gerações sempre com alta performance. Meu pai leu, eu li, minha filha está começando a ler. Chegou a hora de fazer a iniciação desta nova geração no universo de Agatha.

Em 33 anos sob o selo da Nova Fronteira, as aventuras de Poirot & cia. vivem a sua quarta reformatação. Assinadas pela designer Daniela Fechheimer, as novas capas investem em fotos sob a assinatura fac-similada da autora. Aos fãs de policiais, salta aos olhos a semelhança com os "pretinhos" da Companhia das Letras (nobre coleção integrada por mestres como P.D. James, Lawrence Block, Rex Stout...). Mas a editora carioca nega ter pego carona na série concorrente.

- Na realidade, estamos nos inserindo dentro de um movimento criado pela nova detentora dos direitos da obra de Agatha, a Chorion IP, que está querendo uma uniformidade nos cuidados que devem cercar cada volume - conta Carlos Augusto Lacerda, dono da Nova Fronteira.

Simenon está à espera

Para ampliar ainda mais a legião de fãs de Agatha no país - capazes de criarem sites e trocarem e-mails sobre suas histórias durante todo o dia - a editora não está se limitando apenas a alterar o aspecto gráfico.

- Não basta relançar. É também preciso trabalho de divulgação para chamar a atenção do público potencial. Assim os primeiros livros da coleção estão chegando às livrarias apoiados numa grande campanha de marketing - informa Barbosa.

Para a festa dos fãs dos mistérios policiais ser total, a obra de outro mestre vai reingressar recauchutada no mercado. Também dona desta "mina", a Nova Fronteira anuncia para 2003 a operação Georges Simenon. No seu catálogo, estão 48 dos livros do belga criador do genial inspetor Maigret, meio esquecido ultimamente.

- A editora vai proceder a um trabalho de reinserção de Simenon no mercado, fazendo a sua apresentação aos leitores mais jovens - afirma Carlos Barbosa.

Na cruzada contra o preconceito

A mensagem deixada num site de fãs de Agatha Christie tenta definir a grande diferença entre os livros de seu ídolo e a Bíblia, segundo e primeiro lugar, respectivamente, do ranking dos mais vendidos de todos os tempos: "Ao contrário do livro sagrado, a gente pode acreditar que quem diz que leu leu mesmo". Fanatismo à parte, não se pode deixar de reconhecer a fé inabalável dos christienos : 26 anos após a morte da autora, eles professam a cartilha ensanguentada ou envenenada de Agatha.

Tradutora de dois dos livros a serem reeditados pela Nova Fronteira, a escritora e jornalista Cora Rónai alfineta os críticos de plantão da autora:

- É verdade, muita gente fala mal. Mas sempre que converso com essas pessoas, descubro que nunca leram Agatha Christie. É o fenômeno não-li-e-não-gostei. Acho que, dentro do que se propõem, os livros de AC são geniais: limpos, corretos. Pouca gente escreveu policiais tão bons, tão atraentes. Para as novas gerações, acho que ela já chega com um vantagem extra: tanto Poirot quanto Miss Marple viraram personagens de seriados de TV e são, portanto, velhos conhecidos.

Outro devorador de policiais, o compositor Aldir Blanc ressalta que gosta mais de uns do que de outros livros da dama do crime - ele elege como melhores "O caso dos dez negrinhos" e "O assassinato de Roger Ackroyd" - mas "o que é inevitável numa produção grande como a dela". E se recorda de quando, garoto, descobriu Poirot:

- Logo depois de passada a fase das aventuras capa-e-espada, veio a fase policial, com Charlie Chan e Agatha imperando.

A mesma paixão explica o surgimento de sites como o Agatha Christie Mailing List (http://acbr.ezdir.net) e o Agatha Christie, Rainha do Crime (www.agathachristie.com.br), visitas obrigatórias para essa tribo que só faz crescer desde 1920. (J.F.)


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Retirado do site www.oglobo.com.br em 01-10-2002
Agradecimento especial da lista ACBR ao autor José Figueiredo