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..:: Minority Report ::..

Estou repassando uma resenha sobre Minority Report porque nele há uma curiosidade (destacada em negrito).


A NOVA LEI - Robledo Milani

O que escrever sobre MINORITY REPORT - A NOVA LEI, novo filme dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Tom Cruise, senão dizer que é imperdível? Por favor, não me entenda mal: não estou afirmando que se trata de uma obra-prima irretocável. Não, tem seus defeitos, seus exageros, seus descuidos. Mas o resultado final é tão superior a esses pequenos deslizes que eles são logo perdoados. MINORITY REPORT é um dos mais bem acabados exemplares do cinema de ficção científica dos últimos anos.

O cerne da história é baseada numa interessante contradição. Num futuro não muito distante (daqui há uns 50 anos), existirá um sistema de prevenção ao crime - chamado Pré-Crime - todo apoiado nas previsões de três pre-cognitivos, isto é, três mutantes que sofreram experiências genéticas e adquiriram o dom de prever o futuro. As visões desses pre-cogs (chamados Agatha, Arthur e Dashiel, em homenagem aos escritores Agatha Christie, Arthur Conan Doyle e Dashiel Hammett) geram imagens de assassinatos num período relativamente anterior (tanto pode ser minutos como dias de antecedência).

Assim, em seis anos de atividade apenas no estado de Washington o Pre-Crime praticamente eliminou a criminalidade. O filme começa no momento em que se discute a implementação desse sistema em todo o país. E é aí que a discussão fica mais complicada: com a atenção de toda uma nação voltada para o mesmo assunto, a questão que permanece é - como acusar alguém de um crime antes desse mesmo acontecer? É possível alguém ser culpado de algo que - ainda - não aconteceu? Ao interferir no futuro, os defensores do Pre-Crime não estariam interferindo inclusive na culpabilidade desses eventuais criminosos?

Tom Cruise é John Anderton, o mais eficiente membro da guarda integrante do Pre-Crime. Seu chefe - e um dos idealizadores do sistema - é Lamar Burgess (Max von Sydow), enquanto que o representante do FBI que é indicado para investigar a infalibilidade do Pre-Crime é Danny Witwer (Colin Farrell, de TIGERLAND). Tudo se complica, porém, quando os pre-cogs prevêem que Anderton irá assassinar um homem em 36 horas - alguém que ele mesmo nem conhece. Assim, ele precisa fugir não só para provar sua inocência, mas também para descobrir o que existe por trás de todo esse jogo de interesses a respeito do Pre-Crime.

O melhor de MINORITY REPORT (o título faz referência a um relatório detalhado sobre as visões dos pre-cogs, que pode indicar que, eventualmente, eles podem discordar entre si, o que indicaria que não são, portanto, tão infalíveis assim) é que se trata de um filme de ação adulto e sério o suficiente para que toda a discussão proposta pela história seja não só plausível como identificável com a nossa realidade. O futuro apresentado por Spielberg é resultado de várias reuniões entre cientistas e teóricos que indicam essa realidade como totalmente possível de acontecer. Ou seja, o que é proposto na tela não é nenhuma alucinação, e sim um dos prováveis caminhos para a humanidade.

Essa atitude deveria ser encarada como uma nova lei a ser seguida por qualquer produção cinematográfica que se preze: utilizar o melhor disponível hoje para realmente nos colocar "dentro" da trama, promovendo sua verossimilhança ao máximo da razão. Percebe-se o resultado desse estudo detalhado em cada fotograma de MINORITY REPORT, e mesmo nos momentos mais absurdos (como as armas de repulsão ou o sistema moderno de transportes) é crível ao ponto de, passado o espanto, notarmos que o que foi visto nada mais é do que uma das possíveis conclusões para a nossa atualidade.

Outro ponto fundamental desse projeto é a tão esperada primeira união de dois ícones do cinema hollywoodiano: Tom Cruise e Steven Spielberg. Se ultimamente nenhum dos dois andava acertando muito, por optaram por projetos mais ousados e alternativos, dessa vez eles conseguiram, literalmente, "unir o útil ao agradável". Digo isso porque é identificável em MINORITY REPORT toda a preocupação de ambos de evoluírem enquanto criadores de sonhos, mas baseados em alternativas sólidas de realidade e usufruindo do melhor que a tecnologia é capaz de provir. MINORITY REPORT faz ecos tanto a A.I. - INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, de Spielberg, quanto a VANILLA SKY, com Cruise. A escolha de ambos, portanto, não poderia ser mais acertada.

Esse novo trabalho definitivamente não é apenas mais um "filme-do-momento", mas sim um obra que resistirá ao tempo, e aposto, será digerida melhor com o passar dos dias. Talvez ainda não estejamos prontos para esse futuro apresentado por Spielberg, Cruise e Philip K.Dick (autor do conto original em que o filme se baseia, escrito em 1956, e responsável também pelas tramas de O VINGADOR DO FUTURO e BLADE RUNNER - O CAÇADOR DE ANDRÓIDES), mas tenham certeza que um dia ele chegará: seja no nosso dia-a-dia, seja através dos nossos sonhos.

ROBLEDO MILANI - robledo@argumento.net, 25 anos, publicitário, mora em Porto Alegre/RS. Espera realmente estar vivo em 2054 (terá 77 anos) para voar num daqueles jatos portáteis usados pela polícia em MINORITY REPORT.


Enviado à mailing por Manu em 05-08-2002