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"Bolivian News - Diário de Bordo"
CAPÍTULO 2 - Chegando à Terra-Média


Tuesday, September 16th, 2003 - Final da primeira etapa

Depois de um almoco farto pero corrido, continuamo a viagem, agora seguindo rumo à Corumbá. Eram 14:30 quando entramos nos limites de Corumbá, a Capital do Pantanal. É realmente muito bonito. Estava um dia claro, com céu azul, e o calor sul-matogrossense já se fazia sentir. Ao longo do caminho, a paisagem pantaneira, com fazendas, alguns acampamentos de sem-terra, mas com um show de Ipes roxos e amarelos, jacarés, capivaras, tuiuiús e garcas (garssas, nao tenho cedilha no teclado).

Meia hora depois, um carro quebrado na estrada, uma moca sozinha, e o motorista para o onibus para “ajudar”. Aha, apareceram uns 8 mecanicos no onibus, todos entendendo mais de carro que os outros. Descemos, tiramos algumas fotos da beira de estrada pantaneira e continuamos viagem. A moca? Ficou na estrada, do jeito que encontramos. Ninguem entendia nada de mecanica!

15:20 atravessamos uma ponte, a 69 km de Corumbá, onde antes a travessia era feita por balsa. Nas margens se viam as balsas antigas, ja sem uso, abandonadas.A estrada, que ate esse ponte havia sido recapeada, piorou de tal forma que pulavamos nos assentos. Nao haia muitos buracos na estrada, mas pouca estrada entre os buracos. Nao tao ruim quanto a Belém-Brasilia, trecho Tocantins - Goias.

Uma hora depos, finalmente chegamos a Corumbá, a poucos quilometros da divisa com a Bolivia. Apos desembarques, onde os bolivianso tem que carimbar sua saida do Brasil, passamos rapidamente por Ladario (que ainda nao entendi ser uma cidade ou um bairro, dada a proximidade de Corumba).

Exatamente as 17:30, atravessavamos a fronteira com a Bolivia, na cidade de Puerto Quijaro. É aí que descemos e ganhamos nosso visto temporário de 1 mes, pagando 4 reais. A impressao inicial é que atravessamos um portal do tempo ou algo assim. Ate a divisa, asfalto, calcadas, placas indicativas. Da divisa em diante, o aspecto tipico de fronteira, sem calcamento, sem indicacoes, sem nada. Um outro mundo. Confesso que a impressao inicial nao foi grande coisa, mas para minha felicidade isso mudaria radicalmente.

Chegando em Puerto Quijaro, separei-me dos amigos que fiz no onibus, os quais seguiram para um hotel, e parti para a casa de uma senhora chamada Delfina de Maldonado, que iria me hospedar em sua casa por uma noite, ate a saida do trem para Santa Cruz no dia seguinte.

(parenteses: esqueci de citar entre os amigos que conheci no onibus um médico carioca chamado Anderson, cardiologista, que passaou quase metade da viagem dando esporro nos seus medicos residentes - entre eles um Boliviano de Sucre, que estava faltando a residencia para fazer um bico de motorista de ambulancia. Estava nessa viagem para fugir do estresse, e ia comprar umas muambitas em Santiago, no Chile. Depois de nos separarmos em Puerto, nao o vi mais.)

Como ela veio me receber na fronteira com uma F1000 cabine dupla, com ar e som, comecei a imaginar que teria uma confortavel noite de descanso, e assim seria. Em sua casa, na cidade de Puerto Suarez, a uns 10 km da fronteira (casa muito grande e confortavel, onde vive com uma filha de aprox. 38 e neta de 9), fiquei hospedado num quarto de hospedes com banheiro, tv e uma cama de casal enorme, onde depois poderia tirar o sono atrasado tranquilo.

O ponto alto desta noite foi uma abertura de jogos estudantis, com pessoas vindo de varias provincias da Bolivia, que aconteceu a noite. Era a atracao maior, e a cidade toda estava la. No caminho da casa para o “estadio” (um campo de futebol com arquibancada so de um lado), a Sulma (filha da Sra. Delfina) me disse que uma professora de primario havia morrido num acidente de onibus sofrido numa dessas “estradas da morte”, enquanto vinha para os jogos. Tendo em vista que no dia seguinte eu pegaria o “Trem da Morte” para Santa Cruz, foi uma observacao deveras tranquilizadora de sua parte.

A apresentacao se deu com danca de grupos representantes das provincias, e uma impagável apresentaçao de um grupo do exercito boliviano, que fez saltos ornamentais sobre um cavalo, e até mesmo atravessando um arco de fogo. Tudo “muuuuito” coordenado (hahahahahahaha!). Ri até doer a barriga.

Destaque para o marca das olímpiadas (cinco arcos), feita com pneus pintados e de ponta cabeça (tres embaixo e dois em cima). Inesquecível!

Depois de rir muito e quase ser levado de volta ao Brasil pela enorme quantidade de insetos (que se acumulavam exatamente na luz sobre minha cabeça), voltamos para a casa, nao sem antes passar numa legítima “churrasqueria Boliviana” chamada “Bodegón Joaquim”. Algo similar ao nosso “churrasquinho de gato”, só que com picanha ao invés do gato. Comi um arroz com queijo horrível, frio e sem gosto (que, depois, fiquei sabendo nao ser o fiel “arroz con queso” boliviano, que se serve quente e bem temperado). Pensei que fosse sofrer com a comida daqui, mas perdoei porque chegamos no “bodegón” perto da meia-noite, e seria muito querer um arroz quente àquela altura do campeonato. Pelo menos pude experimentar uma autentica cerveja boliviana, a “Paceña”, que lembra um pouco a nossa Antarctica, por ser encorpada (depois iria conhecer a “Ducal”, parecida com a Skol).

Retornando a casa, enquanto ajeitava a mala para a tao esperada viagem no “Trem da Morte” do sia seguinte, assisti o “Programa do Jo”, captado do sinal brasileiro da fronteira.

Nem lembro se apaguei a luz antes de dormir.

Amanha: a viagem até Santa Cruz no “Trem da Morte”.

Abraços (achei a cedilha),
LEO

Enviado à mailing por Leo em 24-09-2003