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Agatha Christie
 
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..:: Noite de Gato e Rato ::..

"Ladies and Gentlemen,
Thank you very much for this warm reception.
Now that you have watched The Mousetrap, you'll become experts in solving murders.
Following a 50 year tradition, we would like to ask you to keep the secret
of the play - the "whoduneit" - locked... in your hearts!"

im, meninos e meninas, EU VI!!! E foi ESPETACULAR!!! Sentado na poltrona número oito, na segunda fileira do upper circle, no St Martin's Theater (com aquele famoso luminoso vermelho), na West Street, no West End, em Londres, Inglaterra. Um sonho realizado, com toda a certeza.

Explicando, para quem está por fora ou não lembra: eu e o Gustavo (meu colega de faculdade), em pleno intercâmbio extracurricular de férias em Amsterdam, na Holanda, conseguimos passagens razoavelmente baratas para passarmos um dia (o último sábado) em Londres. E o ponto alto do dia foi, é claro, assistir a "A Ratoeira".

Para um fã da Agatha, seria algo especial mesmo se a peça fosse ruim. Mas uma vez que o Gustavo também saiu falando bem, eu posso dizer que é imperdível, até para quem não é muito chegado em mistério policial.

O teatro: fica numa ruazinha minúscula, apertada, quase impossível de encontrar, uma vez que os mapas de Londres que a gente tinha em mãos eram complicados pra burro. Principalmente depois de termos feito quase 30 milhas (segundo o meu orientador, pós-relato meu sobre o trajeto todo, na segunda-feira) a pé pela cidade toda durante o dia (Palácio de Buckingham, Big Ben, Parlamento, Abadia de Westminster, Tâmisa e Ponte da Torre) e estarmos com bolhas torturantes nas solas dos pés. A trilha sonora quase perfeita para o momento teria sido, sem dúvida, “London London”, do Caetano Veloso: “Im wondering round and round, nowhere to go”. A diferença é que tínhamos um lugar para ir. Encontrar o caminho é que se tornou complicado.

Mas, chegamos. As nossas poltronas (as mais baratas :-D) ficavam no terceiro nível do teatro, lá em cima, mas mesmo assim a vista era perfeita (exceto por um corrimão bem na frente dos olhos, mas era só erguer um pouco a cabeça).

A peça: FENOMENAL!!! Tendo lido a peça em texto logo após retornar ao Brasil, percebi algumas diferenças entre o que lembro de ter entendido e o que está no livro. O início, por exemplo: começa com uma espécie de "prólogo", com tudo escuro, a melodia dos três ratos cegos (G, F#, C) assobiada duas vezes, um grito horrendo, e um diálogo, em vozes desesperadas, no qual eu entendi eles dizerem “Someone is killing Mrs Boyle!!!”. Porém, no livro, o prólogo não faz referência a este assassinato (o principal), mas a um primeiro, onde não é citado qualquer nome logo de início. Ou eu entendi errado (embora sequer lembrasse que o nome da mulher era Boyle antes da peça iniciar), ou é um pouco diferente. Mas muito bom, de qualquer maneira. Depois disso, inicia-se a história propriamente dita.

Outra diferença é na última cena, onde algumas coisas são modificadas para tornarem o finalzito (momento derradeiro mesmo, depois da revelação) mais “engraçado”. Talvez quem ouça não ache adequado, mas ficou genial. Não estraga o clima, como pode parecer. Dá um toque muito agradável.


Pontos altos (os principais, pois são tantos...):

1) Christopher Wren: desde sempre e até agora, o meu personagem preferido é o Paraviccini. Mas é impossível negar que o ator que interpreta o "jovem Christopher" rouba a cena (ou melhor, a peça inteira). O jeitão maluco dele é muito cômico em algumas partes (como no “finalzito”, já citado acima). O que só serve para abrilhantar ainda mais o espetáculo.

2) Sra. Boyle: excelente interpretação, também. Mulher chata, ranzinza, reclama de tudo, e dá o seu toque engraçado ao conjunto. É o personagem com o inglês mais claro e fácil de entender. Pena que ela só participa do primeiro ato...

3) Paraviccini: ainda agora, o meu preferido. A chegada dele é um show à parte, e também quando ele descreve para o inspetor Trotter o que ele estava fazendo quando o crime ocorreu:

“- Bem, eu estava na sala aqui ao lado, tocando o piano, com um dedo apenas, inspetor, quando...
- Inspetor não, cavalheiro! Sargento!
- Pois bem, sargento! Eu estava ali, tocando o piano, e veja bem, com apenas um dedo, então eu ouvi um grito... um grito horrível, inspetor.” :-D

E um sotaque “italiano” enervante! Mais que perfeito!


Pontos Baixos (se é que posso chamá-los assim):

1) Algumas vezes o palco fica vazio (o que pode ser apenas um efeito), e isso me pareceu estranho;

2) Os atores dão as costas para o público com muita freqüência. Não que isso estrague tudo, mas também não parece muito convencional;

3) Às vezes, o diálogo é tão corrido que fica difícil mesmo de entender. Tem que estar com o inglês muito em dia (e modéstia à parte, depois de dois meses no exterior tendo que sobreviver na base do inglês, o meu deveria ser suficiente para entender praticamente tudo. Mas alguns dos diálogos passaram batidaços!).


DE QUEM NÃO LEU/ASSISTIU A PEÇA, ME DESPEÇO POR AQUI! POR FAVOR, NÃO PROSSIGA SE NÃO QUISER SABER O FINAL!!!


4) O Trotter, depois que o crime ocorre, fica... "louco" demais. Ele interroga os suspeitos de uma maneira muito frenética, o que acaba depondo contra a sanidade mental dele. Enquanto que os outros permanecem razoavelmente tranqüílos. Talvez faça parte da linguagem teatral (pois na peça escrita isso também acontece), para que o público já vá descobrindo o final sozinho e acabe achando a coisa toda mais interessante ainda. Mas deixa bastante na cara (tanto que nesta parte, dos interrogatórios, o Gustavo virou pra mim e disse: "É ele! E deve ser um dos três irmãos").

A minha impressão geral: nem preciso repetir. Deslumbramento total, com absolutamente tudo (desde entrar no teatro, olhar para o palco, as cadeiras, as cortinas, os atores, tudo... eu assisti a peça querendo que o tempo não passasse).

Vale muito a pena, e nem adianta escrever mais. Só mesmo (vi)vendo para entender.

|| Em breve, ingresso e fotos! ||

Escrito por Mitáfilo em 15-06-2003